Por: Ana Maria Morateli da Silva Rico
A secção do cordão umbilical separa para sempre, o corpo da criança do
corpo materno deixando uma cicatriz, o umbigo, que marca o significado profundo
desta separação. Assim, no inconsciente, o parto é vivido como uma grande perda
para a mãe, muito mais do que o nascimento de um filho. Ao longo dos meses de
gestação ele foi sentido como apenas seu, como parte integrante de si mesma e,
bruscamente, torna-se um ser diferenciado dela, com vida própria e que deve ser
compartilhado com os demais, apesar de todo ciúme que desperta. Sendo assim, a
mulher emerge da situação de parto num estado de total confusão, como se
tivessem lhe arrancado algo muito valioso ou como se tivesse perdido partes
importantes de si mesma.
Os sintomas do estado depressivo variam quanto à maneira e intensidade
com que se manifestam, pois dependem do tipo de personalidade da puérpera e de
sua própria história de vida, bem como, no aspecto. Se o ambiente mais próximo
não lhe oferecer carinho e atenções, tal estado pode produzir somatizações,
como febre, constipação e outros sintomas físicos. Do mesmo modo, se as
fantasias inconscientes não puderem ser contidas, surgem às ansiedades
depressivas de modo ocasional ou em acessos de choro, ciúmes, aborrecimento,
tirania ou em expressões de autodepreciação e de auto-acusação.
A sensação predominante neste caso, é de sentir-se apenas a serviço do
bebê, como se nunca mais fosse recuperar sua vida pessoal. No caso de já
existirem outros filhos, estes também sofrerão impactos emocionais, com a
ausência da mãe e o medo de perder seu amor em prol do novo membro da família.
O modo como demonstrarão tais sentimentos, freqüentemente vão desde a
regressão, quando solicitam novamente o uso da chupeta, apresentam transtornos
do sono, inapetência, voltam a molhar a cama, até mesmo a negação da própria
mãe, como se não precisassem mais de seu amor e cuidados. Neste momento,
vinculam-se mais fortemente com o pai ou com a pessoa que as está atendendo, fortalecendo
na figura materna o sentido de incapacidade, de não conseguir realmente dar
conta das antigas e novas responsabilidades, concomitantemente.
Assim, se a família e os amigos colaborarem de modo satisfatório,
proporcionando confiança e segurança à puérpera, principalmente no tocante às
atividades maternas, sem críticas e hostilidades, mas com compreensão e
carinho, acolhendo-a nos momentos de maior fragilidade emocional, a depressão
pós-parto vai diminuindo de intensidade até se transformar em carinho pelo bebê
e respeito pelo ritmo de seu desenvolvimento e progresso.
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