quarta-feira, 16 de maio de 2012

Açaí: os novos poderes da superfruta




   Investigado por diversos centros de pesquisa, o fruto mostra sua força na defesa do cérebro, no controle do colesterol e até na prevenção do câncer

por Patrícia Golini | design Ana Paula Megda | fotos Dercílio

O que ele tem?

A quantidade de macronutrientes em uma porção de 100 gramas de açaí

Carboidratos 42,53 g
Gorduras 40,75 g
Proteínas 8,13 g

    Diz a lenda que essa frutinha roxa com até 1,5 grama foi criada por Tupã, a entidade indígena associada aos trovões, para salvar uma tribo brasileira da fome. Aos olhos da ciência, porém, o açaí tem demonstrado que sua função mais trivial é forrar a barriga da gente. Entre seus feitos confirmados em laboratório estão a criação de barreiras protetoras para os neurônios, a derrubada dos níveis de colesterol e até mesmo a redução do risco de alguns tipos de câncer. Não é à toa, portanto, que a espécie típica dos ribeirinhos do Norte do país ganhe o mundo com status de superalimento - condição que faz com que nenhum estudioso se canse de vasculhar sua composição. 

    Vem da Universidade Tufts, nos Estados Unidos, um novo trabalho que sinaliza o potencial de ação de sua polpa sobre a preservação da massa cinzenta. Os pesquisadores observaram que o consumo regular de açaí reduz a exposição das células nervosas a processos degenerativos e inflamatórios recorrentes, fenômeno que abre caminho ao colapso do tecido cerebral. 

    Uma das hipóteses que buscam explicar essa façanha é a presença de substâncias antioxidantes, em especial a antocianina, que combatem os radicais livres por trás de uma série de danos ao organismo. "Os antioxidantes do açaí conseguem bloquear a formação dessas moléculas nocivas no início do processo de ataque às células", explica a especialista em tecnologia de alimentos Ediluci Tostes, do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá. E a fruta amazônica não causa espanto apenas pela qualidade dos seus componentes. Em 1 litro da sua polpa, há 33 vezes mais antioxidantes que o encontrado em um mesmo litro de vinho tinto, bebida famosa por conter um monte desses ingredientes que varrem da circulação os temíveis radicais livres. 

    Além dessa propriedade, substâncias do porte da antocianina respondem por um efeito anti-inflamatório, o que soma forças para deixar em paz as estruturas e as conexões cerebrais. Na prática, isso significa uma menor probabilidade de ocorrer um comprometimento crônico e progressivo de funções cognitivas, como a memória e a coordenação motora. "É por isso que o açaí teria uma ação preventiva contra males neurodegenerativos, caso das doenças de Par-kinson e Alzheimer", completa Ediluci. 

    A mesma antocianina que protagoniza benefícios ao cérebro pode afastar outro problema que ameaça tanto a massa cinzenta quanto o coração. É que sua ação antioxidante auxilia a debelar a formação de placas nos vasos sanguíneos, o que pode culminar em derrames e infartos. E é justamente esse papel protetor das artérias o que tenta provar o cardiologista Eduardo Augusto Costa, professor da Universidade Federal do Pará. 

    Ele dividiu a população da pequena cidade de Igarapé-Miri, no estado paraense, em dois grupos: consumidores frequentes da fruta e pessoas que não a comiam. "Descobrimos que indivíduos que a ingerem regularmente apresentam taxas mais elevadas de HDL, a fração boa do colesterol", conta Costa. "Enquanto isso, os níveis de LDL, o colesterol ruim, estavam em níveis aceitáveis e melhores do que os índices dos não consumidores da fruta", completa. 

    Já na Universidade de São Paulo (USP), a atenção está voltada para outra substância, que surge quando a polpa é adicionada ao leite antes da fermentação por bactérias, o que dá origem ao iogurte. "Durante esse processo, o ácido linoleico do leite é transformado em ácido linoleico conjugado, o chamado CLA", explica a farmacêutica Maricê Nogueira de Oliveira, da USP. E hoje há indícios de que essa espécie de gordura auxiliaria a impedir o aparecimento de alguns tumores, como os de pele, mama e intestino. 

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