A cada ano que passa, mais de meio milhão de mulheres morre em decorrência de complicações na gravidez, parto ou pós-parto. A chamada Mortalidade Materna continua preocupando especialistas da área de saúde, que alertam para o avanço do problema, encontrado tanto no Sistema Único de Saúde - SUS - quanto no suplementar. No Brasil, país cujo índice é considerado alto, a taxa oficial é de aproximadamente, 75 mortes maternas para cada 100 mil nascidos vivos. “O número de casos permaneceu praticamente inalterado ao longo das duas últimas décadas. Esse fato é extremamente alarmante, já que a medicina evoluiu bastante ao longo dos anos e o acesso à informação tem sido cada vez maior por parte da população”, relata a ginecologista e obstetra Regina Amélia Lopes Pessoa de Aguiar, presidente do comitê de Perinatologia da Associação dos Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (SOGIMIG). A solução, de acordo com ela, é a união de todas as esferas da sociedade. “Cada um precisa fazer a sua parte, seja governo, médico ou gestante. Só assim poderemos minimizar as perdas”.
Morte Materna é todo óbito causado por problemas relacionados à gravidez ou ao parto ou ocorrido até 42 dias depois - período de risco no qual acontece a grande maioria dos óbitos, geralmente causados por hipertensão, hemorragias ou infecção. O índice considerado aceitável pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é de 20 mortes maternas para cada 100 mil nascidos vivos; entre 20 e 49 mortes, a taxa é considerada média; entre 50 e 149 mortes, é alta e, acima de 150, muito alta. O que assusta mais, no entanto, é a possibilidade dos indicadores estarem errados e - o pior - para menos. “Os números não refletem a realidade, pois nem todas as mortes são registradas com as causas relacionadas à gravidez ou ao parto”, acrescenta Regina. Estudos indicam que o número real é superior a 100 mortes maternas para cada 100 mil nascidos vivos. Uma importante medida utilizada para reduzir a Mortalidade Materna foi a criação de "comitês de óbitos maternos", que visa justamente melhorar a qualidade da notificação dos óbitos e conhecer as verdadeiras causas, propondo, então, ações para sua prevenção.
A Organização das Nações Unidas (ONU) já divulga que espera uma redução de 75% na taxa de Mortalidade Materna até 2015, como parte do programa de Metas de Desenvolvimento do Milênio. Os países, principalmente os em desenvolvimento, parecem estar longe dessa marca. Os fatores determinantes são muitos e envolvem todo o processo de atenção à saúde da mulher, indo do planejamento reprodutivo ao cuidado puerperal, entre eles, o acesso à informação, gravidez não planejada, não identificação do risco materno no momento do pré-natal, sobrecarga de equipes, inadequação de taxas de cesariana, assistência inadequada ao puerpério (pós-parto), não adesão a protocolos e demora na tomada de decisão.
A Mortalidade Materna acomete, especialmente, as mulheres de baixa renda e pouca escolaridade, principalmente na periferia dos centros urbanos. Para prevenir, portanto, são necessárias medidas de melhoria da situação sócio econômica, formação dos profissionais que prestem assistência, garantia de parto seguro e organização do sistema de referência para atendimento às emergências obstétricas, entre outras.
O enfrentamento do problema engloba diferentes estratégias. Por exemplo, desde 1996, 90% das gestantes no Brasil têm acesso à atenção pré-natal, sendo que mais de 50% delas fazem mais de sete consultas, e quase a totalidade dos partos - 97% - ocorre em hospitais. Apesar dessa realidade, os índices não têm sofrido mudanças significativas e as principais causas vigentes de morte continuam a ser hemorragias e hipertensão arterial. Isso demonstra que ainda é inadequada a assistência prestada à saúde das mulheres e que, mais do que nunca, a sociedade precisa estar consciente disso.
Fonte: Guia do Bêbe
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